Um dos maiores destaques no último arco de Bleach é a luta entre Shunsui Kyoraku e Lille Barro essa luta ficou marcada pela revelação da então aguardada bankai de Shunsui, pela aparição surpresa da personificação da zanpakutou do capitão (pois ela já havia aparecido no arco filler do anime) e da resolução final através da Nanao Ise.
Esse conflito não é uma unanimidade entre os fãs da obra, muitos acabaram não gostando por uma questão lógica, afinal, um dos personagens mais poderosos da obra, o qual derrotou alguns membros da Divisão Zero (que supostamente são muito poderosos), foi derrotado por uma personagem que sequer tinha manejado uma espada antes na obra.
Entretanto, Tite Kubo não simplesmente fazer uma luta bonita visualmente envolvendo vários personagens e cada um com o seu momento de destaque, esse não é o foco de Bleach. O autor priorizou usar da narrativa e dos poderes de Kyoraku (bankai), para realizar um excelente desenvolvimento dos personagens envolvidos.
O combate físico nada mais é do que um pretexto para contar a história de um homem que carrega um gigante fardo encarregado por todas pessoas próximas a ele, já que elas não conseguiram cumprir com os seus deveres em vida.
Breve histórico.
Após 1000 anos, a Soul Society é novamente invadida por quincys, mas desta vez os inimigos levam a melhor, pois o líder e shinigami mais poderoso, Genryusai Shigekuni Yamamoto, é morto e a Seireitei é destruída.
Diante a crise, Shunsui é apontado como novo líder do Gotei 13 e aquele que comandará a defesa da Soul Society em um novo ataque quincy, que ocorrerá em cinco dias.
Na nova invasão, os quincys conseguem chegar no Palácio do Rei das Almas e subir ao trono e os capitães sobreviventes são a última linha de defesa. Durante a guerra, Shunsui Kyoraku acaba por enfrentar Lille Barro, um dos personagens mais poderosos da obra, que levará o capitão a revelar um lado dele nunca antes mostrado no mangá.
Sobre os personagens da luta.
Shunsui Kyoraku é sem dúvida alguma uns dos personagens mais maneiros e únicos da obra, sua personalidade descontraída e pacífica destoa dos demais capitães da Gotei 13, que são em sua maioria sérios e firmes.
Kyoraku faz parte daquele clichê de personagens em que “as aparências enganam”, um senhor de meia idade (ou idoso) o qual se apresenta como um “boa praça” qualquer (que inclusive tem costume de beber), mas revela-se poderoso e badass, (outros exemplos são: Jiraya de Naruto, Dot Pixis de Attack on Titan e Silvers Rayleigh de One Piece)
Todavia, a diferença de Shunsui para esses demais personagens é a maneira como Tite Kubo abordou a dualidade do capitão. Por dentro da pessoa extrovertida e calma de Kyoraku, há frieza e crueldade em sua persona.
Ao mesmo tempo que Shunsui evita lutar e tenta resolver os conflitos através da diplomacia, quando decide participar de uma luta é capaz de usar truques sujos para garantir sua vitória, como o fez quando enfrentou Coyote Starrk. Por muitas vezes é infantil e bobalhão, porém sabe ser sábio na hora certa, motivo pela qual se tornou o capitão comandante após a morte de Genryusai Shigekuni Yamamoto. Gosta de sorrir e está na maior parte do tempo com bom astral, no entanto possui um passado triste e chegou a perder quase todos que ama.
Dentre todos os shinigamis do mangá, Shunsui é aquele que mais se assemelha a um samurai de fato. E isso não é uma mera coincidência, pois seu personagem é inspirado no Miyamoto Musashi, este que é considerado o ronin mais famoso e maior samurai que já existiu (Musashi já serviu de inspiração para outras obras como Vagabond, Baki e Fate Series).
Eis as semelhanças Shunsui Kyoraku (personagem de Bleach) e Miyamoto Musashi (figura histórica):
· Ambos manejam duas espadas de tamanhos diferentes, as famosas “daisho” (katana e wakizashi).
· Ambos possuem filosofias similares de luta. Golpeie por trás se necessário, utilize todos os recursos que estejam ao seu redor para assegurar a vitória na batalha. Quando lutou contra Starrk, Shunsui atira seu chapéu (kasa) para distrair seu oponente e mais tarde atirou seu robe de capitão (haori) para poder dar o golpe final. No último arco, Kyoraku “libertou” Aizen para defender a Soul Society e ordenou Unohana treinar Zaraki para que ele liberasse todo seu potencial. Por sua vez, Musashi derrotou Kojiro usando o sol como tática para que a luz solar “cegasse” seu inimigo.
· O estilo de luta dos dois é o mesmo. As duas espadas movem em ritmos diferentes, de modo que a mais curta (wakizashi) confunde o inimigo com sua velocidade, a mais longa (katana/tachi) se move mais lenda, porém bate mais forte e confunde o inimigo com o seu maior alcance. Miyamoto foi o criador desse estilo de kenjutsu (técnica de espada) e é denominado de Hyoho Niten Ichi Ryu.
· É dito que Musachi costumava atacar mais rápido com a mão esquerda, Kyoraku também é assim (como Starrk diz durante a luta).
· A aparência de ambos é similar, notadamente, com relação ao cabelo longo e ausência o “coque samurai” (o verdadeiro, chamado de chonmage), barba e características corporais. Kyoraku lembra o estereótipo do ronin no final do período Azuchi-Momoyama.
· Shunsui é lembrado por ser um dos personagens mais sábios de Bleach, assim como Musachi é conhecido por ter sido alguém sábio, chegando a se dedicar a outras artes como pintura, caligrafia e a escritura, considerado inclusive um filósofo.
· É dito que Miyamoto possui uma afinidade por flores, Kyoraku carrega um kimono florido e quando primeiro apareceu na história, fez uma entrada com pétalas antes de lutar contra Sado.
Curiosamente, Shunsui Kyoraku é um único personagem de Bleach que apenas enfrentou oponentes que usam “armas de fogo”. Inclusive quando ele enfrentou Yasutora Sado (Chad) no arco da Soul Society, Sado tinha como habilidade emitir um raio de energia pelos punhos, então ele usava seu braço como canhão.
Sinceramente, não sei o motivo real do autor optar por fazer esse tipo de confronto com Kyoraku, a hipótese criada é que Kubo gosta de criar um conflito visualmente estiloso entre um samurai (Shunsui) contra um fora da lei/cowboy/pistoleiro ou agente/atirador franco, como um embate entre o Japão Feudal e o Japão Moderno.
O arco da Guerra Sangrenta dos Mil Anos representou uma grande mudança no personagem do Kyoraku. Com a morte de seu mestre e capitão comandante, Shunsui foi escolhido, contra sua vontade, para assumir o posto de liderança do Gotei 13, porém em nenhum momento ele hesitou em cumprir seu dever. A Soul Society encontra-se em seu momento mais crítico, assim, Kyoraku, sabendo seu dever como líder, deixou de lado seu jeito pacífico e descontraído para então preparar todos para a guerra, apresentando uma postura mais séria e até sádica na tomada de decisões.
Logo antes de morrer, Yamamoto tem uma lembrança (flashback) de quando Shunsui, criança, entrou em seu quarto e perguntou sobre a pintura de um homem em chamas. O fogo desenhado no quadro não representa apenas o Yamamoto quando ativado sua bankai, como também uma figura simbólica da “passagem de tocha” de capitão comandante entre os dois personagens.
Durante o flashback de Shunsui, é mostrado que as pessoas costumam confiar a ele os seus mais importantes pertences: seu irmão lhe entregou um dos prendedores de cabelo, sua cunhada lhe entregou a espada tesouro da família e seu mestre lhe deixou encarregado de cuidar de toda Seireitei.
Vale citar que em seu visual ele carrega traços de cada um desses personagens. Cada presilha de cabelo pertenceu ao seu irmão e sua cunhada (lembrando que a mãe da Nanao deu uma das presilhas do cabelo para o pai dela, irmão do Shunsui), o robe usado pelo capitão pertence a mãe da Nanao e pode-se entender que o tapa olho é um traço do Yamamoto, visto que o “Velho Yama” perdeu um de seus braços na luta contra o Aizen e não repôs (mesmo tendo recursos para ter um novo braço no lugar). Kyoraku perde um olha na luta contra Robert Accutrone, mas também não quis se curar.
Note que escrevi bastante sobre Shunsui, mas pouco se tem para falar acerca do Lille, pois a falta de história de fundo sobre seu personagem deu espaço para que Kyoraku fosse o destaque e ele ganhasse o desenvolvimento que seu personagem merecia. A ausência de histórico de Lille acentuou suas características divinas.
Sobre Lille Barro, sabe-se que os quincys são inspirados no cristianismo, havendo várias ligações com a bíblia, seja por referências ao apocalipse, o tetragrama sagrado, a estrela de seis pontas e outros.
Em Apocalipse 19:17–18, o Apóstolo João descreve a batalha final com a aparição de um anjo que estava “em pé no sol”, o qual chamou os pássaros se alimentassem da carne de todos os pecadores que sobrarem na Terra.
O personagem de Lille foi claramente inspirado no Arcanjo Gabriel, pois ambos são o “mensageiro de deus”, tal como são associados com o poder para julgamento das pessoas. O nome da vollständig de Barro é Jiliel, que significa julgamento divino, enquanto o nome islã de Gabriel é Jibril.
De forma semelhante, após Lille ser derrotado por Nanao, ele se fragmenta em vários pássaros pequenos que começam a se alimentar de todos que estavam na Soul Society.
Arcanjos são anjos de alta hierarquia, Gabriel é o arcanjo mais famoso, sendo mencionando tanto na Bíblia (cristianismo), quanto no Alcorão (islamismo) e no Torá (judaísmo).
Lille faz parte do Schutzstaffel, a guarda real de Yhwach. Ele foi o último quincy a receber uma letra (schrift), chegando inclusive a se tornar o líder da guarda real. As referências não param por aí, pois Gabriel é quem toca a trombeta do dia do julgamento final, ao passo que a trombeta soprada por Barro tem o formato de uma superfície de revolução matemática chamada de “Trombeta de Gabriel”.
Todavia, Lille também é inspirado no Anjo Serafim, o qual é conhecido por justamente ser um anjo de seis asas e aquele mais próximo de deus. A aparência de Serafim já foi descrita como uma serpente voadora ou um dragão com características humanas.
Após Nanao o derrotar com a Shinken Hakkyouken, Lille perde seus poderes divinos e cai do palácio real (onde ocorreu a luta) para a Seireitei, sendo humilhado pelo Izuru Kira, que praticamente virou um morto vivo na história, o que remete a história de um anjo caído que perdeu sua graça e foi expulso do paraíso.
Sobre a luta em si.
Como já havia dito em um texto anterior, as manifestações dos poderes de cada shinigami são um reflexo de suas personalidades, ideais e ambições. Aqui não é diferente, a shinkai de Kyoraku coloca ele e seus oponentes em brincadeiras de criança, isso é uma representação de seu lado descontraído e brincalhão, porém sádico e imprevisível.
Por outro lado, sua bankai é uma peça teatral dramática, simbolizando toda tragédia, tristeza e perda que ele carrega em si. Faz sentido na história de Bleach ele não ter revelado sua bankai antes não apenas pelos seus poderes em si, mas também pelo fato dele, por meio deste poder, revelar os seus sentimentos mais íntimos e o seu lado mais vulnerável como pessoa.
Quando Shunsui ativa sua bankai, o cenário muda, todos os personagens ao redor sentem calafrios, o céu se torna escuro e a atmosfera fica desolada. Esse primeiro impacto visual simboliza toda a perda, tristeza e depressão que Kyoraku possui, o que lembra um pouco Aokigahara (a famosa Floresta dos Suicidas), cujas características é a alta densidade das árvores, que bloqueiam o vento, e a ausência de vida selvagem, sendo um local bastante silencioso.
A bankai Karamatsu Shinjuu é levemente baseada da peça Sonezaki Shinjuu (Os Amantes Suicidas de Sonezaki), uma antiga peça teatral japonesa cuja história é uma tragédia sobre um casal que praticam suicídio juntos no templo de Sonezaki, em uma exótica árvore em que uma palmeira e um pinheiro cresceram no mesmo tronco. O casal é formado por um jovem órfão balconista e uma cortesã (acompanhante de luxo de pessoas ricas e poderosas).
Contudo, Karamatsu Shinjuu segue um caminho diferente, contando a história da vida de Shunsui, sobre suas perdas e os fardos que ele carrega. Em sua vida, as pessoas mais próximas dele morreram e no processo passaram seus valiosos pertences a ele. Os personagens desta “obra” são Madame Ise e o irmão de Shunsui.
Assim como os personagens de Sonezaki Shinjuu, o irmão de Shunsui e Madame Ise cometem suicídio de certa forma, porque ele já sabia da maldição da família e mesmo assim decidiu permanecer com ela, ao passo que Ise sabia que seria executada se entregasse o tesouro da família para o capitão.
Os quatro atos desta bankai estão interligados com a história desses personagens da seguinte maneira:
· Primeiro Ato (Compartilhando Feridas): em uma primeira leitura, pode-se concluir que esta etapa refere-se a Madame Ise compartilhando a maldição da família para o irmão do capitão, no entanto essa maldição também afetou o próprio Shunsui, dado que seu irmão lhe entregou uma das presilhas de cabelo antes de morrer e Madame confiou a ele a espada relíquia da família, Shinken Hakkyoken, e foi executada por isso.
· Segundo Ato (Cama da Vergonha): após a morte de seu marido, Madame Ise retorna para a casa de sua própria família, o que na cultura asiática é considerado vergonhoso. Pelo lado do Shunsui, ele carrega a culpa da morte de Madame, uma vez que ficou com ele a relíquia da família, logo, essa culpa a qual ele carrega é representada através do kimono rosa e as presilhas de cabelo que ele veste, ele carrega a vergonha pela morte de Ise. É interessante notar que antes da Katen Kyokotsu, manifestação da zanpakutou de Kyoraku, prometer receber todo amor e ódio que ele ganhou, ela olha justamente para o kimono.
· Terceiro Ato (O Abismo): quando Kyoraku comenta sobre essa etapa de sua bankai, ele cita a ação de um casal se jogando debaixo d’água para que os dois possam assistir o outro se afogar. Madame Ise viu seu amado sucumbir pela maldição e nada pode fazer para mudar isso. Shunsui também viu seu irmão morrer, como também descobriu que sua cunhada foi executada, e não pode mudar isso.
· Quarto Ato (Corte da Gargante): trata-se de uma analogia a execução de Madame Ise.
Na história original de Sonezaki Shinjuu, o casal planejou se matar rapidamente, mas o homem falha em matar a mulher em um único golpe, tendo que, horrorizado, assistir sua amada morrer para depois cortar a sua própria garganta.
A sacada genial de Tite Kubo nessa luta foi colocar a Katen Kyokotsu, manifestação da zanpakutou de Shunsui, pois os dois atuam como o casal suicida da peça de teatro da bankai, de modo que cada um conversa com o outro de uma maneira bem íntima, carinhosa e até sensual, ele a chama de Ohana (algo como minha flor) e ela de Sakuranosuke (segundo sobrenome dele).
Em um momento, Katen sugere a Shunsui que ele desista de tudo, já que ele deu o máximo de si para derrotar o inimigo e não conseguiu. Ele aceita e começa a fechar os olhos, como um casal que está prestes a praticar um suicídio juntos.
A ligação entre Shunsui e a família Ise ultrapassa o grau de cunhado x cunhada ou capitão x tenente. Ao observar a história do Kyoraku, é como se ele próprio tivesse a mesma maldição da família Ise, pois até sua luta contra Lille, ele havia perdido quase todos que ama, seu irmão e cunhada morreram, seu mestre foi assassinado e seu melhor amigo morreu ao tentar defender a Soul Society.
Uma coisa que me gerou dúvida é o fato de que a bankai possui quatro atos, sendo que a peça a qual ela se baseia originalmente tem apenas três cenas. Acontece que Sonezaki Shinjuu é uma peça de bunraku (teatro de bonecos) e frequentemente peças realizadas em bunraku são adaptadas para kabuki (estilo de peça teatral bem estilizada que combina música, dança, mímica, encenação e figurinos, cujos atores usam maquiagens elaboradas). Uma das três principais categorias de kabuki é o sewamono, o qual se constitui em peças envolvendo dramas familiares e romance, algumas das pelas mais famosas de sewamono consiste justamente de suicídio de amantes adaptados do bunraku.
Um elemento bem frequente em peças de kabuki é a repentina revelação dramática ou transformação. Na luta de Shunsui contra Lille, há revelações como a própria bankai do Kyoraku e o passado dele e da Nanao, como também há múltiplas transformações do inimigo Lille Barro.
A minha dúvida foi esclarecida ao saber que pelas de kabuki são compostas em cinco atos, cada uma com um propósito específico. A primeira corresponde a jo, que é uma lenta abertura para introduzir os personagens e a trama para a plateia. Os próximos três atos são chamados de ha, os quais servem para acelerar os eventos, quase sempre culminando em um grande momento dramático ou tragédia no terceiro ato e a possibilidade de batalha no segundo ou quarto atos. O ato final, chamado de kyu, é quase sempre curto, gerando uma rápida e satisfatória conclusão.
Essa estrutura Jo-ha-kyu, cujo ritmo se baseia no começo lento, aceleração no intermédio e final rápido, não é apenas aplicada no teatro, como também em cerimônias de chá, artes marciais, kendo e até poemas.
Na luta analisada neste texto, a priori, pode-se entender que esses cinco atos estão nas quatro etapas da bankai e a participação da Nanao no final, porém discordo dessa interpretação.
Isso porque acredito que a luta inteira entre Shunsui e Lille foi narrada como uma peça de teatro e não apenas a parte da bankai em si. Consequentemente, o primeiro ato (jo), seria quando os depois começam a lutar, Kyoraku usa sua shinkai forçando Lille a ativar sua vollständig e Nanao decide se separar de Shinji e companhia para retornar ao seu capitão. Aqui o primeiro ato está completo, pois o conflito foi estabelecido e os atores da peça estão definidos.
Quando Shunsui ativa sua bankai é o início do segundo ato (ha), pois a narrativa é acelerada, de modo que o terceiro ato acontece o grande momento trágico quando Kyoraku, após usar seu poder mais forte, é atingido no peito por Barro, o qual está transformado e ainda mais forte.
Nesse momento, Kyoraku está prestes a desistir, porém Nanao aparece e ela entra em cena para lutar. A luta dela contra Lille é o quarto ato, pois a batalha final acontece e flashbacks dela e de Shunsui aparecem.
Enfim, o quinto e último ato é quando Nanao, apoiada por Shunsui, dão o golpe final em Lille, vencendo a luta.
O papel da Nanao Ise na luta.
A história de Shunsui Kyoraku teria o mesmo fim que dos amantes suicidas, mas Nanao aparece para mudar o final desta peça teatral.
Diferente das demais pessoas próximas a Shunsui, Nanao permaneceu viva e ao lado dele. Quando ele entrega a espada para Nanao, é como se ela estivesse quebrando a maldição dele.
Madame Ise tentou cortar todos os laços que tinha com a sua família para se livrar da maldição, mas no final ela acabou retornando para sua casa, uma vez que ela jamais conseguiu escapar dos grilhões que a prendiam.
Por outro lado, Nanao, faz exatamente o oposto, porquanto sua mãe entregou a espada da família a Kyoraku para que sua filha não tivesse o mesmo fardo, a mesma maldição que ela, porém Nanao escolheu assumir a maldição.
Neste momento, Kubo faz um trabalho excelente de narrativa ao intercalar as cenas de luta de Nanao contra Lille com os flashbacks dela. Quando Kyoraku aparece em cena para ajudá-la, é a vez dele ter lembranças.
Outrossim, o autor também elevou muito bem a carga dramática da luta em si, mostrando que apesar da Nanao ser shinigami, ela tem dificuldades em manusear uma espada e está extremamente nervosa diante de um inimigo aparentemente imbatível.
A título de curiosidade, a família Ise de Bleach é uma clara referência ao Santuário de Ise (localizado na cidade de Ise), templo este que também é conhecido por apenas ter líderes mulheres, o que remete a maldição mostrada na obra (essa maldição não existe na vida real, só para ficar claro).
A espada usada por Nanao, Shinken Hakkyouken, foi inspirada em um dos itens que faz parte dos três Tesouros da Coroa Real do Japão: espelho Yata no Kagami (O Espelho de Oito Ta — Ta é uma unidade de medida), que é guardada no Santuário Ise. Repare que zanpakutou de Nanao tem quatro espelhos em cada lado, totalizando oito.
Conclusão.
Em suma, três contos são mostrados durante a luta e todas as três se interligam: a primeira é a história do suicídio de dois amantes narrada por Shunsui ao usar sua bankai, a segunda é a própria “encenação” entre Shunsui e sua zanpakutou os quais se assemelham ao próprio casal suicida, e a terceira é a história de Madame Ise e o irmão de Shunsui, revelada através dos flashbacks, que por sua vez também é uma história trágica de dois amantes que decidiram dar um fim em suas vidas.
A história narrada por Shunsui ao ativar sua bankai é de um conto de um homem que fere sua amada, se cobre de vergonha pelo que ele fez e sofre por uma doença incurável, então os dois amantes se jogam na água para se afogarem como um pacto suicida que fizeram, porém a mulher não perdoa o homem e o mata cortando a sua garganta.
Com muitas responsabilidades e fardos para carregar, Shunsui chega a um ponto onde ele não consegue mais avançar, chegando a quase desistir de tudo, até que Nanao Ise aparece e decide compartilhar desta dor, salvando-o de seu fim.
Nanao durante a luta reflete que no final das contas ela acabou dependo de seu capitão para derrotar Lille Barro, mas isso não é uma verdade, afinal, foi Shunsui que dependeu dela para continuar em pé.
Caso tenha gostado do texto, recomendo a leituras das análises que fiz das lutas entre Ichigo e Byakuya e Ichigo e Ulquiorra. Além disso, ainda escrevi mais outro texto apenas comentando sobre detalhes que Tite Kubo deixou na obra e que muitos não perceberam ao ler o mangá.